Por Maria Antônia Teixeira da Costa
Ser chamada de Morte não é para todo mundo, pois a
morte no Ocidente sempre foi considerada algo difícil de lidar, triste, e temerosa. Imagine nos dias de hoje alguém ter o apelido de Dona Maria Morte?
No entanto, a morte é encarada pela maioria do povo
do Oriente como celebração para uma nova vida.
Foto copiada da internet
Nós procuramos encarar a morte assim: celebração para a vida. No
dia do enterro de papai fizemos uma festa de risos e alegrias, apesar do choro, afinal ele era a alegria em pessoa. A maioria dos amigos que foi visitá-lo lembrava uma piada que algum dia ele contou. Mas, como era de se
esperar, fomos recriminados por muitos por nossas risadas. Não importa, tudo já passou e ele está
brilhando junto com as estrelas, acredito nisso.
Cito o exemplo da morte de papai (seu Lucas do Motor), para dizer que a morte já nos visitou de perto. Pois bem, hoje vamos falar da Morte, mas não é
qualquer Morte, é de Dona Maria Morte.
Conversei com seu filho Pedro Emídio e ele nos repassou algumas informações e
autorizou a publicação desse artigo, desde já obrigada.
Pedro Emídio ao centro da foto, minha prima Antônia, casada com Pedro, Maria (irmã de Antônia), também minha prima, as duas filhas de meu tio-avô, Antônio Francisco da Costa (conhecido por Antônio Conduru, o primeiro artesão que conheci em Touros, fazia fogos de artifícios, balões coloridos que enfeitavam os céus de Touros) e meus dois primos (Foto copiada do Facebook de Pedro Emídio)
Maria Morte, assim ela ficou conhecida na cidade de
Touros, por muitos de nós. Maria Isabel dos Santos, o seu verdadeiro nome. Ela
nasceu no dia 23 de agosto de 1926. A sua mãe chamava-se Francisca Estanislau
de Morais e seu pai Benedito José de Morais. Maria Isabel casou-se com Alfredo
Gomes dos Santos aos l6 anos e conviveu com o mesmo um período de 06 anos (
1942 a 1948) e teve 05 filhos desse casamento: Sebastião dos Santos; Mª Emília dos Santos; Mª Inês dos Santos;
Pedro Emídio dos Santos (casado com minha prima Antônia) Mª Venus dos Santos.
Depois da separação de Dona Maria Isabel ela, segundo
Pedro Emídio, teve outros
relacionamentos dos quais nasceram mais quatro filhos, destes, três foram adotados e registrados pela mãe
dela: José de Arimatéia de Morais; Francisco de Assis Morais; Paulo Eduardo de
Morais; Maria Auxiliadora dos Santos
A história dos nomes, dos apelidos das pessoas é bem
interessante. Sempre fiquei curiosa em saber por que chamavam Dona Maria Isabel
dos Santos de Maria Morte. Pensava que era porque ela sempre estaria presente
nos velórios das pessoas, mas descobri que não era isso não.
Foi numa noite
de 25 de março de 2013, na casa de Dona Terezinha Teixeira que descobri o porquê
do apelido que deram a ela.
Dona Terezinha contou-me que no início dos anos de
1940, Maria Isabel era aluna do Grupo Escolar General Florêncio do Lago e toda
quinta-feira tinha a recitação de poesias e a professora dela deu uma poesia
para Maria Isabel recitar intitulada “A
Morte”. Todas as vezes que a chamavam para recitar uma poesia ela dizia: A
morte... e assim começava. A partir dai Maria Isabel ficou conhecida pelo
apelido de Dona Maria Morte.
Quem matou a minha curiosidade foi Dona Terezinha Teixeira, a qual com muita lucidez, recitou para mim e eu gravei em fita K7 a referida poesia que diz assim:
“A Morte”
“A morte é
preta,
Dela ninguém escapa
Nem o Rei, nem o bispo, nem o papa.
Escapo eu,
Tenho uma panelinha, vou para dentro,
Fecho bem fechadinha,
A morte passa e diz:
Aqui não tem ninguém.
E assim como a morte passa,
Passem os senhores muito bem.”
Dona Maria Morte faleceu no dia 12 de junho de 1993 e
foi uma mãe exemplar, foi uma mulher feliz. Conviveu com esse apelido durante
toda a sua vida até a hora da morte.
Eu Tenho aprendido que a morte não é preta, não é feia,
mas sim ela é jovem e bonita e também traz esperança, é um recomeço para uma
nova vida. Em minhas reuniões com meus filhos sempre falamos sobre a morte e
sempre procuro deixar tudo preparado como se fosse morrer amanhã.