Por Maria Antônia Teixeira da Costa
Em 04 de outubro de 2014 levamos mamãe com urgência ao Hospital de Touros-RN. Fomos atendidas por um médico muito bom, podemos dizer um anjo que cuidou de mamãe com muita atenção e carinho até encaminhá-la ao Hospital da UNIMED em Natal. Ficamos muito triste com a situação do hospital no que se refere ao aspecto físico e de condições materiais de trabalho.
Diante do que foi afirmado,
questiono: como a saúde de Touros-RN tem sido tratada?
Para complementar nossos questionamentos e recuperar um pouco as nossas lembranças pergunto: como era o serviço de saúde em Touros nos anos anteriores?
E no final dos anos de 1960, como era a saúde em nossa cidade? O que se
conhece dessa história? O que já foi registrado sobre homens e mulheres simples
que deram uma grande contribuição à cidade de Touros e que muitas vezes ficaram
no anonimato?
Essa é uma história que precisa ser
(re) construída e faço isso através das memórias das pessoas que em Touros
viveram, a construíram e merecem a nossa gratidão, o nosso respeito.
Relembrando meus anos de infância
em Touros-RN, recordava-me de um laboratório numa sala por trás da Colônia dos
Pescadores. A frente do prédio da Côlonia fica localizada à Av. Prefeito José
Américo. Em minhas conversas com moradores da cidade, com meu pai, Luiz Emídio
da Costa e minha mãe Maria do Céu Teixeira da Costa, soube que se tratava de um
atendimento médico que era realizado periodicamente aos sábados. Uma das
pessoas que lá trabalharam foi o senhor Francisco de Brito Miranda.
Mas quem é Francisco de Brito Miranda? Onde encontrar esse senhor? Realizei uma busca entre as pessoas conhecidas e descobri o endereço de seu Francisco.
Foto cedida pela família de seu Francisco de Brito
Fomos visitar o senhor
Francisco de Brito Miranda em sua residência com a finalidade de registrar suas
memórias sobre o tempo em que atuou na área de saúde na cidade de Touros/RN.
Era uma noite clara nos céu de Natal assim como estava viva a sua memória sobre
os tempos vividos em Touros.
Francisco de Brito Miranda nasceu
em 01 de maio de 1925 na cidade de Guamaré-Rn. É filho de Luis de Souza Miranda
e Elvira de Brito Miranda. Seu pai trabalhava embarcado. Eles viviam em Guamaré
no Rio Grande do Norte. Com 13 anos de idade seus pais se mudaram para Touros-RN.
Seus irmãos eram chamados: Vicente de Brito Miranda, Margarida de Brito
Miranda, Maria de Lourdes de Brito Miranda, Lizete de Brito Miranda.
Ele viveu sua adolescência
à Rua Pedro II em Touros-RN, brincava de pegar bandeira; cavalo de palha de
carnaúba, de pega pega. Estudou no Grupo Escolar Cel. Antônio Florêncio do
Lago. No Grupo foi aluno da professora Terezinha Teixeira, e da Professora
Neuza de Aguiar. Começou a estudar aos 13 anos de idade. Aos 17 anos concluiu a
5ª série do ensino primário. “Bebé de Senhorinha batia a sineta do Grupo
Escolar todos os dias a mesma hora”, diz ele se lembrando dos velhos tempos.
Seus colegas de escola foram: Lindonor Patriota, Geraldo Lopes, Laura Lopes,
Ivonete Lopes,
Foi para Macau aos 18 anos
e tirou a carteira de Marítimo. Viajava para Recife (PE) e Bahia em Navio a
vela. Em 1946, aos 21 anos de idade, casou-se com Zumira Gabi de Miranda. Quem
celebrou o seu matrimônio foi o Padre Antônio Antas na Paróquia do Bom Jesus
dos Navegantes e o Juiz de Paz Senhor Antônio André. Da união matrimonial com
Dona Zumira teve os seguintes filhos: Luís, Geraldo, Francisco de Assis, José
Arimatéia, Socorro, Carlos Antônio, Elvira e Maria de Lourdes.
Foto cedida pelo família de Francisco de Brito Miranda
Em 1955 Francisco de Brito Miranda,
conforme nos narrou, deixou de embarcar. Voltou para Touros e trabalhava como
marceneiro. Inclusive o Padre José Luis, pároco da Igreja do Bom Jesus dos
Navegantes de Touros-RN, solicitou que ele ministrasse curso de marcenaria para
os jovens tourenses. Ele assim o fez e dez meninos estudaram com ele e aprenderam
a fazer carteira de alunos, cadeiras, entre outros móveis.
Através de Luís Fernandes, que era
casado com a irmã da esposa de Seu Francisco de Brito e morava em Natal ele
arranjou uma vaga de auxiliar de enfermagem. Nessa época, Dr. Aberlado era secretário
de Saúde do governo de Aluízio Alves. Ao assumir essa vaga de auxiliar de
enfermeiro, ele afirma que não sabia de nada e Maria Enfermeira quem lhe
ensinou a aplicar injeção, fazer curativo, entre outras atividades, por um mês.
A Senhora conhecida como Maria
Enfermeira, era de Ceará-Mirim-RN e vivia em Touros e trabalhava no Posto de
Saúde com o Dr. Murilo, dentista de Ceará Mirim e Dr. Euclides Fernando Gurjão.
Estas foram às pessoas que lhe ensinaram tudo o que sabia fazer: curativo,
extrair dentes; aplicar injeções.
Quando trabalhou em Touros como
Auxiliar de Enfermagem, mas atendia também como dentista e clínico geral,
Aluízio Alves era Governador do Estado, tendo sido eleito em 1960. Logo após o
golpe de 1964 é cassado da vida política. Sebastião Celso de França era o
prefeito da cidade de Touros.
Viveu algumas experiências
marcantes tais como: retirou um anzol que segundo seu Francisco de Brito tinha
atravessado o braço de Ivanildo Penha; o maxilar de uma mulher de Lagoa do Mato
tinha se deslocado e ele colocou no lugar; mulher que quebrou o braço e que ele
não pode fazer muita coisa. A população invadiu o posto e colocou a porta
abaixo.
Seu Francisco de Brito Miranda
exerceu diversas atividades em Touros-RN: foi secretário da Prefeitura no
governo de Sebastião Celso de França; foi marceneiro, escrivão de polícia, Juiz
de Paz na época em que Joaquim Arnaud era Juiz de Direito; auxiliar de
enfermagem.
Ele deixou a cidade de Touros em
1970. Quando foi transferido para o Hospital de Pescadores nas Rocas em
Natal-RN. Dois anos após sua chegada em Natal realizou um estágio por alguns
meses no navio-hospital chamado de Hope, o qual tinha como objetivo estabelecer
uma missão de cooperação de saúde. Esse navio-hospital deu uma grande
contribuição à saúde de Natal.
Hoje seu Francisco de Brito Miranda
mora em outras dimensões: no coração de seus filhos e nas lembranças de todos
que têm gratidão por tudo que realizou na cidade de Touros.