domingo, 29 de novembro de 2015

PEDRO CHIMBINHA E SEU LEGADO COMO PREFEITO DE TOUROS

A  escrita desse texto, além de ser uma proposta antiga minha, foi um pedido de nossa mãe Maria do Céu Teixeira da Costa, hoje, dia 28 de novembro de 2015,  para demonstrarmos a nossa gratidão ao Seu Pedro Chimbinha e os sentimentos de condolência à família pelo seu falecimento.

Entrevistei o seu Pedro em 2011, em sua residência e digno de uma memória extraordinária narrou fatos de sua infância, adolescência e sua vida como prefeito de Touros-RN com tamanha clareza e precisão. Desse modo, este texto tem como base as suas memórias, narradas e gravadas em fita K7 as quais foram transcritas por mim e reelaboradas nesse texto.

Pedro Ferreira de Farias, conhecido por Pedro Chimbinha,  nasceu em 01 de maio de 1917 em  Itajá/Santana dos Matos.  Aos 07 anos de idade saiu de Itajá para Baixinha dos França. Filho de Rita Ferreira de Farias e Joaquim Euclides Ferreira.


    Foto tirada por Maria Antônia Teixeira da Costa em março de 2011

Seu Joaquim, seu pai,  tinha 16 anos e Dona Rita 17 anos quando se casaram. Eles Tiveram 17 filhos e criaram 13. Em 29 de março de 1938 seu pai faleceu e sua mãe  morreu aos 101 anos.

Desde os 07 anos seu Pedro começou a trabalhar, acompanhava seu pai na lida do campo. Também brincava muito, subia nos coqueiros. Cuidou do seu primeiro roçado ao 15 anos de idade na Baixinha. Plantou algodão e feijão.

Casou aos 22 anos com Maria Pureza da Silva. Ela tinha de 13 para 14 anos de idade, no Dia 25 de março de 1938, numa sexta-feira. Ela morava na baixinha.  Ele vendia o algodão para Baixinha e lá eles se encontraram e se conheceram.

Teve os seguintes filhos desse matrimônio: Clóvis (morreu), José, Maria Natividade, Manoel, Paulo, Crenilde, Auristela, Vilma, Zé Maria, Edna, Fernando, Marcos, Clésio

Em 1976 recebeu um convite de Antônio Severiano da Câmara, pai de Antônio Câmara, para ser prefeito de Touros. Deu umas voltas pelos Distritos de Touros para sondar a aceitação e foi muito bem aceito por todos. Ele era um homem bom, honesto. Além disso, tinha recursos, tinha fazenda, 400 cabeças de gado. Vendeu muitas cabeças de gado, tanto para se eleger como para realizar obras, depois de eleito, pois na época não existia o Fundo de Participação do Município (FPM).

Pedro Ferreira de Farias, governou a cidade de Touros nos anos de 1977 a 1982.  Por seis anos realizou uma ótima administração. Ele me contou que nunca atrasou os salários dos servidores. Em sua administração:
a)     Foram instalados na cidade dois bancos.  Banco do Brasil e  Banco do Rio Grande do Norte (Bandern);
b)    Construiu o Hospital de Touros. Falou com Lavoisier Maia que à época era Secretário da Saúde do Estado.  Paulo Tenório doou o terreno após alguns acertos. Ele contratou três tratores  e trabalhadores e assim entregou o Hospital ao Povo de Touros;
c)     Instalou a Telern, a qual funcionava ao lado do Grupo Escolar General Florêncio do Lago;
d)    Ampliou o Ginásio, hoje Escola Municipal Dr. Orlando Flávio Junqueira Ayres;
e)     Levou escolas para os lugares mais distantes do município, reformou outras; Construiu 11 Escolas nos distritos de Reduto, Baixio, Iburana, lagoa de Serra verde, Boa Cica, Boqueirão, perobas, carnaubinha, Gostoso, projeto Vila Assis e Baixa do Quinquim;
f)      Organizou a cooperativa de artesanato e deu suporte e apoio as mulheres da cooperativa;
g)     Fez o aterro na Lagoa do Reduto aterro;
h)    Calçou as Ruas: Cel del Pretti, Rua do Campim e Rua Cel Antônio Antunes.

         Essas foram algumas de suas obras realizadas no município de Touros-RN;
Seu Pedro Chimbinha casou em segundo matrimônio com Maria do Rosário no dia  14 de julho de 1982. Teve os seguintes: Pedro Ferreira, Ana Saminta, Hugo Felipe de Assunção Farias

Seu Pedro Chimbinha faleceu em 03 de novembro de 2015 aos 98 anos de idade e deixou um grande legado para seus filhos, netos, bisnetos, bem como para todos os tourenses.
Para finalizar, podemos afirmar, com as palavras de mamãe que ele era um homem admirado e respeitado por todos. Já com idade avançada, sentava-se quase todas as tardes à porta da sua residência, à rua Cel. Antônio Antunes, tendo como vizinha do lado direito, Maria do Céu (minha mãe) ela observava que todos passavam e o cumprimentavam, conversavam e ela muitas vezes participava da conversa e apreciava com satisfação suas histórias e o reconhecimento de todos.
Para seu Pedro Chimbinha, a  nossa eterna gratidão.


Touros, 28 de novembro de 2015
Maria Antônia Teixeira da Costa
prof.maria.antonia@hotmail.com





sábado, 11 de julho de 2015

FRANCISCO DE BRITO MIRANDA E SUA ATUAÇÃO NA CIDADE DE TOUROS-RN

Por Maria Antônia Teixeira da Costa

Em 04 de outubro de 2014 levamos mamãe com urgência ao Hospital de Touros-RN. Fomos atendidas por um médico muito bom, podemos dizer um anjo que cuidou de mamãe com muita atenção e carinho até encaminhá-la ao Hospital da UNIMED em Natal. Ficamos muito triste com a situação do hospital no que se refere ao aspecto físico e de condições materiais de trabalho. 

Diante do que foi afirmado, questiono: como a saúde de Touros-RN tem sido tratada? 

Para complementar nossos questionamentos e recuperar um pouco as nossas lembranças pergunto: como era o serviço de saúde em Touros nos anos anteriores?

E no final dos anos de 1960, como era a saúde em nossa cidade? O que se conhece dessa história? O que já foi registrado sobre homens e mulheres simples que deram uma grande contribuição à cidade de Touros e que muitas vezes ficaram no anonimato?

Essa é uma história que precisa ser (re) construída e faço isso através das memórias das pessoas que em Touros viveram, a construíram e merecem a nossa gratidão, o nosso respeito.

Relembrando meus anos de infância em Touros-RN, recordava-me de um laboratório numa sala por trás da Colônia dos Pescadores. A frente do prédio da Côlonia fica localizada à Av. Prefeito José Américo. Em minhas conversas com moradores da cidade, com meu pai, Luiz Emídio da Costa e minha mãe Maria do Céu Teixeira da Costa, soube que se tratava de um atendimento médico que era realizado periodicamente aos sábados. Uma das pessoas que lá trabalharam foi o senhor Francisco de Brito Miranda.

Mas quem é Francisco de Brito Miranda? Onde encontrar esse senhor? Realizei uma busca entre as pessoas conhecidas e descobri o endereço de seu Francisco.

Foto cedida pela família de seu Francisco de Brito


Fomos visitar o senhor Francisco de Brito Miranda em sua residência com a finalidade de registrar suas memórias sobre o tempo em que atuou na área de saúde na cidade de Touros/RN. Era uma noite clara nos céu de Natal assim como estava viva a sua memória sobre os tempos vividos em Touros.

Francisco de Brito Miranda nasceu em 01 de maio de 1925 na cidade de Guamaré-Rn. É filho de Luis de Souza Miranda e Elvira de Brito Miranda. Seu pai trabalhava embarcado. Eles viviam em Guamaré no Rio Grande do Norte. Com 13 anos de idade seus pais se mudaram para Touros-RN. Seus irmãos eram chamados: Vicente de Brito Miranda, Margarida de Brito Miranda, Maria de Lourdes de Brito Miranda, Lizete de Brito Miranda.

Ele viveu sua adolescência à Rua Pedro II em Touros-RN, brincava de pegar bandeira; cavalo de palha de carnaúba, de pega pega. Estudou no Grupo Escolar Cel. Antônio Florêncio do Lago. No Grupo foi aluno da professora Terezinha Teixeira, e da Professora Neuza de Aguiar. Começou a estudar aos 13 anos de idade. Aos 17 anos concluiu a 5ª série do ensino primário. “Bebé de Senhorinha batia a sineta do Grupo Escolar todos os dias a mesma hora”, diz ele se lembrando dos velhos tempos. Seus colegas de escola foram: Lindonor Patriota, Geraldo Lopes, Laura Lopes, Ivonete Lopes,

Foi para Macau aos 18 anos e tirou a carteira de Marítimo. Viajava para Recife (PE) e Bahia em Navio a vela. Em 1946, aos 21 anos de idade, casou-se com Zumira Gabi de Miranda. Quem celebrou o seu matrimônio foi o Padre Antônio Antas na Paróquia do Bom Jesus dos Navegantes e o Juiz de Paz Senhor Antônio André. Da união matrimonial com Dona Zumira teve os seguintes filhos: Luís, Geraldo, Francisco de Assis, José Arimatéia, Socorro, Carlos Antônio, Elvira e Maria de Lourdes.

                                               Foto cedida pelo família de Francisco de Brito Miranda


Em 1955 Francisco de Brito Miranda, conforme nos narrou, deixou de embarcar. Voltou para Touros e trabalhava como marceneiro. Inclusive o Padre José Luis, pároco da Igreja do Bom Jesus dos Navegantes de Touros-RN, solicitou que ele ministrasse curso de marcenaria para os jovens tourenses. Ele assim o fez e dez meninos estudaram com ele e aprenderam a fazer carteira de alunos, cadeiras, entre outros móveis.
Através de Luís Fernandes, que era casado com a irmã da esposa de Seu Francisco de Brito e morava em Natal ele arranjou uma vaga de auxiliar de enfermagem. Nessa época, Dr. Aberlado era secretário de Saúde do governo de Aluízio Alves. Ao assumir essa vaga de auxiliar de enfermeiro, ele afirma que não sabia de nada e Maria Enfermeira quem lhe ensinou a aplicar injeção, fazer curativo, entre outras atividades, por um mês.
A Senhora conhecida como Maria Enfermeira, era de Ceará-Mirim-RN e vivia em Touros e trabalhava no Posto de Saúde com o Dr. Murilo, dentista de Ceará Mirim e Dr. Euclides Fernando Gurjão. Estas foram às pessoas que lhe ensinaram tudo o que sabia fazer: curativo, extrair dentes; aplicar injeções.

Quando trabalhou em Touros como Auxiliar de Enfermagem, mas atendia também como dentista e clínico geral, Aluízio Alves era Governador do Estado, tendo sido eleito em 1960. Logo após o golpe de 1964 é cassado da vida política. Sebastião Celso de França era o prefeito da cidade de Touros.

Viveu algumas experiências marcantes tais como: retirou um anzol que segundo seu Francisco de Brito tinha atravessado o braço de Ivanildo Penha; o maxilar de uma mulher de Lagoa do Mato tinha se deslocado e ele colocou no lugar; mulher que quebrou o braço e que ele não pode fazer muita coisa. A população invadiu o posto e colocou a porta abaixo.

Seu Francisco de Brito Miranda exerceu diversas atividades em Touros-RN: foi secretário da Prefeitura no governo de Sebastião Celso de França; foi marceneiro, escrivão de polícia, Juiz de Paz na época em que Joaquim Arnaud era Juiz de Direito; auxiliar de enfermagem.

Ele deixou a cidade de Touros em 1970. Quando foi transferido para o Hospital de Pescadores nas Rocas em Natal-RN. Dois anos após sua chegada em Natal realizou um estágio por alguns meses no navio-hospital chamado de Hope, o qual tinha como objetivo estabelecer uma missão de cooperação de saúde. Esse navio-hospital deu uma grande contribuição à saúde de Natal.

Hoje seu Francisco de Brito Miranda mora em outras dimensões: no coração de seus filhos e nas lembranças de todos que têm gratidão por tudo que realizou na cidade de Touros.










quarta-feira, 3 de junho de 2015

VITALINA ESPERANDO O SEU AMOR

Por Maria Antônia Teixeira da Costa


Foto copiada do CD Ivonildo Penha e convidades, lançado em 2000.


Vejam essa fotografia de Vitalina. Ela foi tirada de um CD que comprei em uma das minhas idas a Touros, no ano de 2000, visto que morava em Mossoró-RN.  O CD foi gravado pelo amigo Ivonildo Penha e vários outros artistas da cidade.

Na fotografia  o semblante de Vitalina é de serenidade, de felicidade. Ela debruçada na janela, é o símbolo da moça que espera o seu amor. Vitalina nunca se casou, nem teve filhos, é o que sabemos. Vitalina passou para o outro lado da vida aos 105 anos de idade,  me corrijam se a informação não proceder.

Lembro-me bem de Vitalina caminhando nas ruas da cidade de Touros, com um saco branco as costas e passando de casa em casa...

O professor, compositor e músico Ivonildo Penha criou uma música que retrata o cotidiano da cidade de Touros_RN, muita linda essa canção, e nesta Vitalina é citada.

 Vitalina era uma moça veia, como diz muito bem Ivonildo Penha em sua canção intitulada “Touros”.... Vejam a canção ao final do post.

Quantos anos se passaram? Em meados do mês de outubro do ano de 1977 eu e minha irmã Maria Alécia Teixeira da Costa fomos visitar Vitalina. Ela estava morando numa casinha de palha próximo onde é hoje a casa de seu João Batista, o pai de Marcos Santana (A casa que todos conheceram como a casa de Vitalina era uma casa vizinha ao correio, onde hoje parece que funciona uma floricultura)

Sua casa com o chão de areia, uma areia alva e limpa. Na sala da casa dois tamboretes e um pote com um caneco de alumínio e cheio de dentes, como se diz. O restante da casa uma cozinha onde tinha um fogão de lenha e um quarto.

Fomos recebidas por Vitalina com um grande sorriso no rosto. Tomamos café e comemos beiju. Que dia maravilhoso. Fomos fazer um trabalho de Geografia, passado pelo professor Gaspar França, meu professor do 8º ano do Ginásio Comercial de Touros, hoje, Escola Dr. Orlando Flávio Junqueira Aires.

Vitalina nos falou que chegou criança em Touros, vinda de Ceará-Mirim . Ela passou toda a sua vida em Touros e nos afirmou que era muito feliz.


Vejam a música do compositor Ivanildo Penha (foto da capa do CD)

TOUROS

Autor: Ivanildo Penha
Tem pic-nic lá prás bandas do farol
Pescaria pela barra do riacho Maceió
Beijo roubado no penhasco escarpado
E coqueiro recortado trás os montes contra o sol
Eu esmoreço, esqueço até da hora
Preso num tresmalho sem querer sair
E só me mexo quando o meu chamego
Arma sua rede e vem chamar prá se dormir


Tê, tê, tê, tê, Touro, Touros

Se o sol renasce lá na barra do horizonte
Meu amor me acorda cedo prá eu poder me espreguiçar
Se lavrador, eu vou pro cabo da enxada
Jangadeiro prá jangada, boiadeiro prá aboiar
De volta ao rancho eu fico assuntando
Terá doce de coco, goiaba ou caju
Mas quando eu vou chegando no terreiro
Me basta aquele beijo com sabor de guajirú


Tê, tê, tê, tê, Touro, Touros

E assim a vida escorrega bem dolente
Quem se enrabichou contente, mas nem tudo é só fulô
Tem moça veia que se posta no batente
Esperando finalmente um xodó que não voltou
E essa coisa toda me azucrina
E em riba desta sina de enganar a dor
Em cada uma eu vejo Vitalina
Toda empoada esperando o seu amor


Tê, tê, tê, tê, Touro, Touros

E desse jeito, eu sou feliz
Sei que meus passos me levam ali


Tê, tê, tê, tê, Touro, Touros



Saudades da minha Terra querida.

domingo, 24 de maio de 2015

MARIA MORTE

Por Maria Antônia Teixeira da Costa


Ser chamada de Morte não é para todo mundo, pois a morte no Ocidente sempre foi considerada algo difícil de lidar, triste, e temerosa. Imagine nos dias de hoje alguém ter o apelido de Dona Maria Morte?


No entanto, a morte é encarada pela maioria do povo do Oriente como celebração para uma nova vida.
Foto copiada da internet



 Nós procuramos encarar a morte assim: celebração para a vida. No dia do enterro de papai fizemos uma festa de risos e alegrias, apesar do choro, afinal ele era a alegria em pessoa. A maioria dos amigos que foi visitá-lo lembrava uma piada que algum dia ele contou.  Mas, como era de se esperar, fomos recriminados por muitos por nossas risadas. Não importa, tudo já passou e ele está brilhando junto com as estrelas, acredito nisso.

Cito o exemplo da morte de papai (seu Lucas do Motor), para dizer que a morte já nos visitou de perto. Pois bem, hoje vamos falar da Morte, mas não é qualquer Morte, é de Dona  Maria Morte. Conversei com seu filho Pedro Emídio e ele nos repassou algumas informações e autorizou a publicação desse artigo, desde já obrigada.


Pedro Emídio ao centro da foto, minha prima Antônia, casada com Pedro, Maria (irmã de Antônia), também minha prima, as duas filhas de meu tio-avô, Antônio Francisco da Costa (conhecido por Antônio Conduru, o primeiro artesão que conheci em Touros, fazia fogos de artifícios, balões coloridos que enfeitavam os céus de Touros) e meus dois primos (Foto copiada do Facebook de Pedro Emídio)


Maria Morte, assim ela ficou conhecida na cidade de Touros, por muitos de nós. Maria Isabel dos Santos, o seu verdadeiro nome. Ela nasceu no dia 23 de agosto de 1926. A sua mãe chamava-se Francisca Estanislau de Morais e seu pai Benedito José de Morais. Maria Isabel casou-se com Alfredo Gomes dos Santos aos l6 anos e conviveu com o mesmo um período de 06 anos ( 1942 a 1948) e teve 05 filhos desse casamento: Sebastião dos Santos;  Mª Emília dos Santos; Mª Inês dos Santos; Pedro Emídio dos Santos (casado com minha prima Antônia) Mª Venus dos Santos.

Depois da separação de Dona Maria Isabel ela, segundo Pedro Emídio,   teve outros relacionamentos dos quais nasceram mais quatro filhos, destes,  três foram adotados e registrados pela mãe dela: José de Arimatéia de Morais; Francisco de Assis Morais; Paulo Eduardo de Morais;  Maria Auxiliadora dos Santos

A história dos nomes, dos apelidos das pessoas é bem interessante. Sempre fiquei curiosa em saber por que chamavam Dona Maria Isabel dos Santos de Maria Morte. Pensava que era porque ela sempre estaria presente nos velórios das pessoas, mas descobri que não era isso não.
 Foi numa noite de 25 de março de 2013, na casa de Dona Terezinha Teixeira que descobri o porquê do apelido que deram a ela.

Dona Terezinha contou-me que no início dos anos de 1940, Maria Isabel era aluna do Grupo Escolar General Florêncio do Lago e toda quinta-feira tinha a recitação de poesias e a professora dela deu uma poesia para Maria Isabel  recitar intitulada “A Morte”. Todas as vezes que a chamavam para recitar uma poesia ela dizia: A morte... e assim começava. A partir dai Maria Isabel ficou conhecida pelo apelido de Dona Maria Morte.

Quem matou a minha curiosidade foi Dona Terezinha Teixeira, a qual com muita lucidez,  recitou para mim e eu gravei em fita K7 a referida poesia que diz assim:


“A Morte”

“A  morte é preta,
Dela ninguém escapa
Nem o Rei, nem o bispo, nem o papa.
Escapo eu,
Tenho uma panelinha, vou para dentro,
Fecho bem fechadinha,
A morte passa e diz:
Aqui não tem ninguém.
E assim como a morte passa,
Passem os senhores muito bem.”

Dona Maria Morte faleceu no dia 12 de junho de 1993 e foi uma mãe exemplar, foi uma mulher feliz. Conviveu com esse apelido durante toda a sua vida até a hora da morte.

Eu Tenho aprendido que a morte não é preta, não é feia, mas sim ela é jovem e bonita e também traz esperança, é um recomeço para uma nova vida. Em minhas reuniões com meus filhos sempre falamos sobre a morte e sempre procuro deixar tudo preparado como se fosse morrer amanhã. 













segunda-feira, 4 de maio de 2015

SEU LUCAS DO MOTOR E A LUZ DA CIDADE - Parte I


Linda fotografia do luar de Touros por  Dione Nascimento

Seu Lucas do motor, assim ele é conhecido na cidade de Touros RN, pois foi durante quase vinte anos o responsável pela manutenção dos motores que forneciam a iluminação pública da cidade. Seu verdadeiro nome é Luiz Emídio da Costa. Nasceu em 15 de outubro de 1924 e faleceu em 27 de janeiro de 2007. É filho de Antônia Pereira da Costa e Emídio Francisco da Costa (Emídio Condurú) Ele morava à Rua Cel Antônio Antunes, 23. Casou-se em 1959, com Maria do Céu Teixeira da Costa com a qual teve dez filhos, entre eles, eu que escrevo esta história a partir de seus relatos orais e nossas lembranças.

 
Luiz Emídio da Costa na Avenida Prefeito José Américo-Touros-RN em 1987, ao fundo da fotografia a casa onde viveu Vitalina
Nascido e criado em Touros viu o tempo passar e ficar em seus oitenta e dois anos (82) anos de idade vividos. Perdeu seu pai quando tinha aproximadamente 30 anos e passou a cuidar da sua mãe e suas irmãs enquanto seus outros irmãos foram para o Rio de Janeiro. Assumiu então a profissão de seu pai e passou a fabricar anzóis de diversos tipos, vendidos aos pescadores do local, bem como na capital do Estado. Além disso, cuidava da luz da cidade e com a chegada dos filhos tornou-se pai aos 35 anos de idade.
Pai no sentido completo que podemos afirmar do que é ser um pai. Ele nos gerou e nos amou de uma maneira maravilhosa. A sua racionalidade e sensibilidade se aliavam de tal forma que diria, se meu pai tivesse tido oportunidade, seria conhecido hoje como um doutor, um grande cientista, um grande artista. Eu e meus irmãos aprendemos com ele muitas lições de vida, aprendemos valores inestimáveis: a simplicidade, a honestidade, o respeito, o amor.

Ainda criança, em Touros não havia cinema. Lembro-me como se fosse hoje, ele levou-nos para assistir vários filmes, entre eles, “Os brutos também amam”, “A lenda de Tarzan”. Esses dois são os que mais marcaram minha infância. Isso aconteceu no início da década de 1970. Os filmes aconteciam no salão da antiga casa paroquial que ficava na rua da antiga prefeitura, a qual foi demolida.

Fomos muitas vezes, também, assistir ao show de João Redondo, hoje conhecido por Mamulengo. Era uma espécie de divertimento popular onde através de um palco ligeiramente levantado, bonecos dramatizam histórias. Semanalmente, nos finais de semana eram apresentados no antigo Centro Operário Tourense, se não me engano, hoje lá funciona o Fórum de Touros.
    Centro Operário Tourense em 1975- Foto do Livro Touros à Meia-tinta do autor: Geraldo Gonzaga da Costa

Quantos pais não têm tempo para seus filhos? Muitos. A maioria não participa da infância de seus filhos e quando se dão conta, o tempo passou, os filhos tornaram-se homens e mulheres, casaram, foram embora de casa. Com nosso pai não foi assim.

Todos os dias à tardinha ele pegava sua bicicleta e colocava minhas irmãs, Maria Auxiliadora e Maria Alécia no bagageiro e eu ficava dentro de uma cesta que ele colocou na frente da bicicleta e ia passear conosco até à praia. De manhã cedo, nos finais de semana, nos levava para tomarmos banho de mar e dizia para tomarmos três goles de água salgada, que conforme ele dizia era bom para muitas coisas, como para abrir o apetite, para gripe entre outros males.

Eu ainda pequena e ele me ensinava pequenas poesias as quais eu memorizava e recitava-as para os seus conhecidos quando íamos passear. Nessa época eu tinha cinco anos de idade. Durante toda a minha existência ouvi papai contar muitas histórias sobre a cidade de Touros.

Na nossa infância ele nos levava para ouvirmos histórias das pessoas mais velhas. Minha irmã Maria Alécia, está com um projeto de escrever um livro com essas histórias.
Ele era um homem brincalhão, todos conhecem essa sua característica. Além de histórias verídicas, contava-nos piadas bem engraçadas, tinha um humor fantástico. Fazia todos rirem com suas palhaçadas.

Atualmente todos falam em economizar energia, economizar água, pois creiam, em minha infância o nosso pai sempre falava sobre isso, ensinávamos a economizar. Ele dizia que um dia a água e a energia podiam acabar.

Hoje se fala em direitos iguais para homens e mulheres, em nosso cotidiano vivenciamos isso em vários pontos do relacionamento de papai e mamãe. Por exemplo: mamãe trabalhava à tarde, quando ela chegava em casa a janta já estava quase toda pronta; ele lavou muitas fraudas nossas, nos deu mamadeiras, conforme mamãe nos relata. Em nossa adolescência, pudemos observar que ele realizava muitas atividades para ajudar mamãe. Até mesmo quando mamãe ia dar à luz ele ajudava às parteiras, pois muitos dos seus filhos nasceram em casa. Mesmo com uma pessoa que nos ajudava nas tarefas, nosso pai sempre foi aquele homem cuidadoso, amoroso, carinhoso. Às vezes ele era muito duro conosco, mas jamais perdeu a ternura.

Além de tudo isso, ele trabalhava e muito, ele cuidava da luz da cidade, através da manutenção dos motores geradores da energia. Papai era um homem muito inteligente, era ele quem fazia as instalações elétricas das casas, consertava vários tipos de eletrodomésticos da época, e também, motores de carro. Depois de meados dos anos de 1980, outras pessoas foram aprendendo o ofício

Perguntamos a papai (Seu Lucas do Motor)  em 1987 como era a iluminação pública na cidade de Touros e nos respondeu baseado em suas lembranças e em suas experiências. Papai tinha uma memória extraordinária. 

Antes dos anos de 1920 a lua  iluminava a cidade de Touros-RN, como canta o poeta, José Porto Filho na canção Luar de Touros.


“Quando em noites de luar, em minha vila.
 Até a própria natureza se retrata.
E o clarão do luar que então cintila.
Vem convidando o meu amor à serenata.

Não pode haver luar, assim, tão belo.
Como o luar da minha terra amiga...
Cada coqueiro a ensaiar uma cantiga
No farfalhar do seu leque bem singelo

O céu se torna marulhado em prata
E a terra cheia de ofuscante luz.
Quando o clarão da lua se desata
Em jorros, na Matriz do Bom Jesus!

[...]
  

Touros foi também iluminada por lampiões que eram abastecidos com querosene, contou papai, dos anos de 1920 até 1948. Havia um lampião a querosene no Centro Operário Tourense, onde hoje funciona o Fórum; outro na frente da casa de Izaque, onde é hoje a casa de Dona Salete (situados na rua Cel Antônio Antunes) outro na casa de José Porto, ex-prefeito de Touros nos anos de 1934, na antiga rua do Capim; um na antiga Prefeitura da cidade, denominada de Palácio Porto Filho, a qual foi demolida; havia ainda um lampião em frente a casa de Joça da Mata, situada hoje na rua Pedro II, aonde morou seu Manoel Cândido e sua família.

Em 1948, assume a Prefeitura da cidade de Touros, o vice-prefeito, Severino Rodrigues Santiago, conhecido como Severino Grilo, em virtude do falecimento do então prefeito Arthur Costa e Silva.


quinta-feira, 30 de abril de 2015

CRONOLOGIA DA CRIAÇÃO DA CIDADE DE TOUROS-RN

Maria Antônia Teixeira da Costa

“Touros – Criado pela lei geral de 5-9-1832 em que a Regência Trina sancionou a resolução da Assembéia Geral Legislativa tomada sobre uma outra do Conselho Geral da Província do Rio Grande do Norte, desmembrando-a da freguesia de Estremoz, sob a denominação de “Freguesia do Senhor Bom Jesus dos Navegantes do Pôrto de Toiros”. A Lei provincial nº 10, de 6-3-1835, modificou os limites expressos na lei criadora da freguesia. O primeiro vigário foi o Pe. Felix Alves da Cruz, posse a 5-10-1834” ( CASCUDO, 1984, p. 248) (conservei a ortografia conforme está no livro)
Baseada nessa citação de Câmara Cascudo e também em Nilson Patriota, além outras leituras, podemos dizer o seguinte:

• No Brasil Império (1822 -1888) o Brasil era dividido em províncias, estas eram divididas em municípios/vilas, que por sua vez eram divididos em freguesias. Freguesia era a mesma coisa que paróquia. A província do Rio Grande do Norte foi criada em 1821;
• 1832 – Em 05 de setembro de 1832, por Lei Geral, o Conselho da Província do Rio Grande do Norte desmembra Touros de Extremoz e cria a Freguesia do Senhor Bom Jesus dos Navegantes do Porto de Toiros, ou seja, Touros já pertenceu a Estremoz.
• 1833 – Em 11 de abril de 1833, Touros é elevada ao status de vila e sede de município, através de uma Resolução.
• 1835 - A criação da Vila de Touros em 27 de março de 1835 pelo Presidente da Província do Rio Grande do Norte, Basílio Quaresma Torreão é referendada por Lei.
• Esse ano, em 27 de março de 2015, Touros completou 180 de “emancipação política”;
• Touros irá completar 183 anos de criação do lugar, em 05 de Setembro de 2015.
• 1938 -Em 29 de março de 1938, a vila de Touros foi elevada ao nome de cidade, pelo Decreto nº 457, de 29 de abril (PATRIOTA, 2000, p.41).
Touros foi denominado Vila de Touros por 105 anos (1833 - 1938)

Na foto abaixo a  Rua da Frente, hoje Rua Prefeito José Américo, na década de 1920 -Touros -RN. Touros nessa época, segundo relatos da população tinha aproximadamente 800 habitantes. Mas o recenseamento de 1920, afirma que o município possuía 17.019 habitantes e quatro escolas. O prefeito da época era Joel Cristino de Medeiros. Vejam ao fundo a Igreja do Bom Jesus dos Navegantes. Foto e informações do Livro: "Os Cavaleiros dos Céus: a saga do vôo de Ferrarin e Del Prete".
Obrigada ao meu irmão João Batista Teixeira da Costa por ter me presenteado com esse livro.


terça-feira, 28 de abril de 2015

RETRATOS DE TOUROS NOS ANOS DE 1960


Re-apresento aos apreciadores das nossas postagens, fotografias de Touros-RN nos anos de 1960,com alguns comentários. Nesses anos nós chamávamos fotografia de retrato. Os comentários aqui copiados foram realizados por diversos internautas na ocasião da primeira postagem na página do facebook memórias de Touros.

FOTO 01
Foto 01 - O Rio Maceió, a Igreja, os armazéns,  a Rua da Frente, hoje Rua Prefeito José Américo, na década de 1960 –Touros –RN. Foto do acervo de Carlos Pacheco. Copiada do blog
http://lcpenha.blogspot.com.br/2011/03/touros-176-anos-de-emancipacao-politica.html



ALGUNS COMENTÁRIOS DOS INTERNAUTAS NA PÁGINA DO FACEBOOK MEMÓRIAS DE TOUROS ADMINISTRADA POR MARIA ANTÔNIA TEIXEIRA DA COSTA SOBRE A FOTO Nº 01

Anacelia Bento – A minha vó morava bem ali do lado direto da ponte, quando esse rio tava cheio a água entrava no quintal e aparecia muitas rãs e eu morria de medo.
João Costa  - Nesta casa cercada se não me engano morava GALIQUEIRO e próximo a casa tinha um campinho onde jogávamos bola.
Beto NeryNessa época, o Rio Maceió descia encantado e prateado em busca do verde MAR !!!!! e Hoje ???
Iza Cristina Alecrim Baião – Como mudou!
Marília Souza -  Que imagem linda!



                                                                   FOTO 02



Foto  02 - Francisco Marcondes Moreira do Nascimento em frente a sua Residência à Avenida Prefeito José Américo em Touros-RN no ano de 1969. Prefeito da época: José Joaquim do Nascimento.  Ao fundo o Cemitério da cidade (Foto de Crizelda Moreira da Nascimento)


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Carlos Alberto C. de Carvalho -  A rua marcada para o desfile de 7 de Setembro.
Cida Marques - Touros 11 anos antes da minha pessoa nascer e quase 20 anos antes de chegar pra morar...
Iris Nascimento - Saudades quando eu era pequena que ia pra casa de tia  Lili nesta rua mesmo.

                                                                  FOTO 03



Foto 03 - Aula inaugural do Ginásio Comercial de Touros em 1969. Aula aconteceu no Grupo Escolar General Florêncio do Lago. Estão nesta foto: José Joaquim do Nascimento, o prefeito à época; a primeira Dama, Crizelda Moreira do Nascimento; José Varela, Severino, Maria Nizete,  Lindonor e Terezinha Patriota, a filha de Maria Tavares (desculpas pelos nomes incompletos citados) e demais que não conseguimos identificar (Foto cedida por Sofia Junqueira Ayres)


                                                Foto 04

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Thazia Costa - Perda lamentável, morava do lado participei de grandes festas lá, patrimônio destruido
Olda Bonatto - SEM COMENTARIO...
Geraldo Gabi -  Apesar de toda essa importância que esse prédio exerceu na vida de nossa cidade, ele foi criminosamente derrubado. Prova de que muitas pessoas não guardam às nossas memórias. Tive o privilegio de morar ao lado

                                                                Foto 05


Foto 05 - Grupo Escolar General Florêncio do Lago em 1969. Foto cedida por Sofia Junqueira Ayres.


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Geraldo Gabi Gabi -  Com orgulho iniciei meus estudos nessa maravilha. Quanta saudades! Quanto orgulho!
José Junior -  Esse faz parte da nossa historia a linda Touros rn,


Espero que tenham gostado e conto com vocês para novas postagens.


MARIA DEU A LUZ: NARRATIVAS DE MARIA DO CÉU TEIXEIRA DA COSTA COMO PARTEIRA DE TOUROS - Parte II

Ao concluir seu curso de Auxiliar de Enfermagem na Escola de Auxiliares de Enfermagem de Natal, Maria do Céu Teixeira da Costa (mamãe) voltou para Touros em 1958 começou a exercer sua profissão atendendo de casa em casa, quando era chamada. Conforme ela nos narra, ela era a única pessoa da cidade que tinha estudo na área da saúde.
Hospital Miguel Couto (em 1960 o Hospital recebe o nome de Hospital das Clínicas. Hoje o Hospital é chamado de Hospital Onofre Lopes), em Natal, local aonde Maria do Céu Teixeira da Costa realizou o Curso de Auxiliar de Enfermagem no anos 1957-1958


Na cidade não havia um único posto de saúde, não havia maternidade, as mulheres pariam em suas casas com a ajuda de parteiras conhecidas como curiosas. Mãe Brás e Dona Inez eram mulheres que ajudavam as mães a darem a luz. Não havia na cidade luz elétrica e o maior nível de ensino era o primário realizado no Grupo Escolar Cel. Antônio do Lago.



Ao realizar o primeiro parto, Maria do Céu não tinha nem vinte anos completos. Foi o parto do menino que ficou conhecido por “Seu Branco”, filho de Dona Maria. A mãe de dona Maria comentou: “E essa menina sabe fazer alguma coisa?”.

Depois do primeiro parto, seguiram-se outros, cada um com suas peculiaridades: partos fáceis, difíceis, de cócoras, espontâneos, partos que as crianças nasciam com a expulsão inicial dos pés. Partos de mulheres simples, mulheres sofisticadas, mulheres de todos os tipos. Conforme mamãe nos contou, atendia da mesma forma quem podia pagar e quem não podia. Quando a família era simples ela dizia: “me dê o que puder. E me davam galinha, ovos, peixe e outras coisas mais”.

Nos anos de 1950, ser dona de casa era o “destino natural das mulheres”. Elas tinham que ser femininas, recatadas, comportadas para não serem consideradas levianas. Não vestiam calça comprida, nem usavam biquíni. No tempo em que o papel da mulher restringia-se a cuidar dos filhos, do marido e do lar, mamãe saía a cavalo, de burro, de bicicleta, a pé, de carro, para os lugares mais longínquos para realizar os partos. Ela saía pelo meio do mundo e nos afirmou: “Eu me sentia feliz e realizada. A coisa mais linda do mundo é ver uma criança nascer”.


Foto do Guia da Cidade do Natal 1ª Edição. Organizado por J.A. Negromonte e E. Etelvino Vera Cruz com a colaboração de Fernando R. da Silva, Natal,   1958.

Mamãe casou-se em 1959 e logo teve a primeira filha. Em 1960, teve a segunda filha. Eu sou a terceira. Naquele tempo era assim: as mulheres não podiam evitar filhos, pois os preceitos religiosos não permitiam e nessa época eles eram muito fortes, além disso, os anticoncepcionais eram raros. Assim, mamãe, uma mulher instruída, teve dez filhos. O seu casamento não impossibilitou a sua permanência como parteira, pois meu pai sempre foi um homem à frente de seu tempo.

Durante cinco anos ela andou pelos municípios realizando partos. Não tinha hora de almoço, jantar ou café. Ela deixava tudo e seguia em frente. Ela era chamada para costurar ferimentos, e olhe que eram ferimentos grandes,  aplicar injeções, e todas as necessidades relacionadas à saúde.

Quando precisava viajar a cavalo, vestia uma saia grande e uma calça de papai por baixo, lembrou-me a minha irmã, Maria Alécia. Levava em sua pequena maleta: pinças, injeções, cordão para amarrar o umbigo e muita garra coragem e fé no coração.

Em 1962, dona Genésia de Avelino doou um terreno grande para ser a maternidade e Padre Rui da Paróquia de Ceará Mirim, a construiu. Quando mamãe começou a trabalhar na maternidade eu tinha 15 dias de nascida. As suas ajudantes eram: Maria Aparecida da Costa, sua irmã de criação e Antônia da Costa, a minha tia, irmã de papai. A maternidade tinha oito leitos e o material que contava era: Pituitina, Vitamina K, para hemorragia, gaze e algodão, além de instrumentos como pinças.

A maternidade de Touros funcionava da seguinte forma quanto à alimentação das pacientes: havia um grupo de pessoas da comunidade, aquelas que tinham mais condições econômicas,  que davam a alimentação das mulheres. Quando a mulher chegava à Maternidade, a família responsável (uma família adotava aquela mulher quer estava para dar a luz) era comunicada e se encarregava da alimentação até a mulher ser liberada. Era levado o café da manhã, o lanche, o almoço, o lanche da tarde e a ceia. Entre os colaboradores foram lembrados: Severino Grilo, Dona Maura (esposa à época de Joaquim Gomes), Doninha, seu Enéas. Mamãe e suas ajudantes permaneceram na Maternidade durante dois anos 1962-1963.

Após sua saída da Maternidade, mamãe continuou atendendo mulheres em suas residências. Porém, agora de maneira esporádica. Assumiu o magistério primário como professora, profissão na qual se aposentou. Muitas das experiências por ela relatadas ficarão guardadas em minha memória.

Ela ajudou dezenas de mulheres a darem à luz. E me questionei: O que fez uma jovem de dezoito anos sair do seio da sua família para estudar internada em outra cidade? Perguntei a mamãe! Ela me respondeu: “antigamente, quando eu era pequena, eu ouvia muito falar: fulana morreu de parto... beltrana morreu de parto. Penso que isso me influenciou”.

Gostaríamos de lembrar que Maria do Céu Teixeira da Costa foi uma das fundadoras da primeira Maternidade da cidade de Touros, sendo também sua primeira diretora, além de ser a primeira mulher nascida no município a fazer parte da primeira turma de Auxiliares de Enfermagem do Hospital do Hospital Miguel Couto. O principal curso da área de saúde que existia em Natal/RN, depois do Curso de Medicina no referido período.

Com essa história, espero contribuir para que ao ouvirmos alguém falar: “Maria deu a luz”, lembremos de mulheres parecidas com Maria do Céu, as quais superando os preconceitos de uma época, voaram mais alto em busca de sua realização como pessoa e profissional, contribuindo para a diminuição de mortes de parturientes. Assim, não podemos também esquecer das palavras divinas: “E disse Deus: haja luz. E houve luz”.