Maria
Antônia Teixeira da Costa
Email:
prof.maria.antonia@hotmail.com
As
festas joaninas, popularmente chamadas juninas, para alguns historiadores tem
este nome em homenagem a São João Batista, primo de Jesus e filho de Isabel e Zacarias.
João, foi aquele que pregou a vinda de Jesus, é conhecido também como o
“batizador”, pois batizou muitos judeus no Rio Jordão, especialmente, Jesus. É
provável que essas festas tenham sido trazidas para o Brasil pelos portugueses
durante o período colonial.
Em
Touros, na década de 1970, elas alegravam todo o mês de junho com as fogueiras,
com os balões, os fogos de artifícios, as quadrilhas, a capelinha-de-melão e as
bandeirinhas. Nas noites alusivas aos santos: Santo Antônio, 13/06; São João,
24/06 e São Pedro, 29/06; a cidade se enchia de fogueiras. As famílias se
preparavam com antecedência preparando a madeira para fazerem as fogueiras. Os
meninos soltavam fogos de artifícios: estrelinhas, traques, cobrinha,
chumbinho, entre outros.
Com
um bom inverno, uma boa colheita a comida era farta à mesa das famílias. As
comidas típicas feitas de milho: pamonha, canjica, bolo de milho, cuscuz, milho
assado, milho cozido, os quais eram servidos à mesa do jantar, do café da
manhã, bem como vendidas nas festas realizadas pelo Grupo Escolar Cel. Antônio
do Lago e pelo Ginásio Comercial de Touros.
Em
minhas lembranças revejo as quadrilhas organizadas pelos professores do Grupo
Escolar General Antônio do Lago e pelos professores do antigo Ginásio Comercial
de Touros (hoje chamado Escola Municipal Dr. Orlando Flávio Junqueira). Lembro
de uma quadrilha marcada pelo prof. Dr Orlando Flávio Junqueira Ayres, toda em
Frances, ou seja, ele falava em francês os passos da quadrilha:
Dentre
as festividades que permanecem no mês de Junho em Touros, temos as
bandeirinhas. O professor e folclorista, Deífilo Gurgel, nos afirmou que as
bandeirinhas só existem na cidade de Touros. Podemos dizer que as bandeirinhas
são bem antigas, o escritor Nilson Patriota enfatiza que elas surgiram há mais
de um século e se consolidaram por volta de 1910, sob a direção de Joana
Pacheco. Nos anos vinte, cita Nilson Patriota, Joana Pacheco passou a Francisca
Conduru (Minha tia-avó ) à responsabilidade de conduzir a função. A Presidente
seguinte foi Geracina Alsina do Nascimento, que em seguida entrega o estandarte
a Josefa Odete de Melo, conhecida por Dona Finha.
Os
preparativos das bandeirinhas começam antes do dia de São João. As mulheres
participantes dos festejos, se reuniam na casa de Dona Finha, discutiam a cota
que cada mulher deveria contribuir, sobre a preparação das comidas, das
bebidas, como a meladinha que era mel de abelha, misturado com cana e suco de
alguma fruta disponível, maracujá, umbu, limão. Às vezes, quando o dinheiro
dava, era servido o vinho tinto.
Foto das Bandeirinhas em Touros-RN. Copiada do site Palavras na Rede. |
No
dia 23 de junho, por volta das sete da noite, às mulheres começavam a chegar à
casa da organizadora principal, relata Dona Finha, e a festa inicia com as
mulheres dançando umas com as outras, ao som da Sanfona, tocada pelo único
homem que participava da festa. Homens não participavam das bandeirinhas até o
final dos anos de 1970 e parece-me que até hoje. Elas ficavam dançando até a
meia-noite quando saíam às ruas cantando em louvor a São João Batista. Durante
o trajeto são cantados esses versos abaixo, que foram ditados por Dona Finha e
eu os gravei e transcrevi. Esta música é cantada durante o trajeto das
bandeiras nas principais ruas da cidade de Touros.
Que
bandeira é essa que vamos levar/ É a de São João para festejar (repete)
Segure a bandeira, não deixem cair/Senhor São João, nos é de acudir (repete)
Viva São João, viva são José/ viemos adorar, o filho de Izabel
Filho de Izabel, e de São Zacarias/primo de Jesus, sobrinho de Maria
Sobrinho de Maria, batizado no Jordão, por ser primo de Deus, chamou-se João
Que luz mais brilhante, tão resplandecente/cantemos na glória com São João na frente.
Segure a bandeira, não deixem cair/Senhor São João, nos é de acudir (repete)
Viva São João, viva são José/ viemos adorar, o filho de Izabel
Filho de Izabel, e de São Zacarias/primo de Jesus, sobrinho de Maria
Sobrinho de Maria, batizado no Jordão, por ser primo de Deus, chamou-se João
Que luz mais brilhante, tão resplandecente/cantemos na glória com São João na frente.
Após
o trajeto nas ruas principais de Touros com a porta estandarte carregando a
Bandeira de São João que era de cor azul com seu desenho no centro feito com aplicações
e arremates, trabalho artesanal, feito a mão, as mulheres cantando e soltando
fogos se dirigiam ao Rio Maceió para o tradicional banho coletivo. Quanto ao
banho das mulheres no rio, no dia de São João, dizem alguns historiadores que
teve origem no costume português do banho-de-rio obrigatório no dia do santo
precursor em que emergiam o corpo na água, murmurando orações e fazendo pedidos
ao santo.
As
mulheres, cita Nilson Patriota, ao chegarem ao rio livram-se de suas roupas
festivas e se atiram nas águas do rio Maceió. Elas cantavam a seguinte cantiga,
quando iam entrando no Rio Maceió para o banho. Esta letra abaixo foi cantada
por D. Finha em 1985, quando estive levantando a história das bandeirinhas,
gravei e transcrevi:
São
João foi tomar banho/ com vinte e cinco donzelas/
As donzelas caíram nágua e São João caiu com elas/
Maria chama Izabel/para acordar São João
Para soltar as bandeirinhas/ no Rio Jordão
Acordai, acordai João
São João está dormindo/ não acorda não.
As donzelas caíram nágua e São João caiu com elas/
Maria chama Izabel/para acordar São João
Para soltar as bandeirinhas/ no Rio Jordão
Acordai, acordai João
São João está dormindo/ não acorda não.
As
bandeirinhas são encerradas, as mulheres voltam em grupo para suas casas e
aguarda-se mais um ano para novos preparativos. Conversei com Dona Finha em
1985 quando ela falou-me sobre as bandeirinhas. Hoje, 2009, não tenho
conhecimento quem organiza as bandeirinhas, pois há um bom tempo não participo
dos festejos juninos em Touros. O São João não é mais o mesmo, não soltam mais
balões (é proibido), mas as bandeirinhas continuam. Viva São João!
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