segunda-feira, 30 de setembro de 2013

MEMÓRIAS: ADORMECIDAS LEMBRANÇAS, NOVAS ESPERANÇAS.






Maria Antônia Teixeira da Costa

 

Em nossas  vidas há muitos sonhos contidos,

Guardados, escondidos,

De velhas lembranças,  de grandes paixões.

Da terra em que nascemos, do tempo de criança, das brincadeiras de outrora,

Do amor de adolescência, das histórias contadas por papai, dos amores não vividos.

Lembranças de tudo que poderia ter sido e não foi.

Assim, jaz no fundo do coração uma chama.

Dos sonhos  de quem te ama ou sonhava amar.

E o tempo?  Ah o tempo!  Não poderá torná-los esquecidos.

Lembranças adormecidas são reaquecidas,

De sonhos vividos  nos tempos perdidos,

Diálogos partilhados  através da luz,

Cabos conectados,  palavras não ditas.

As luzes se apagam, as palavras não saem.

E quando acordamos já é meia-noite,

A lua quase se esconde.

E quando despertamos já é manhã,

O sol nasceu e a lua perdeu seu brilho momentaneamente.

E quando queremos viver, as estrelas já se foram.

E os sonhos?

Permanecem guardados com as chaves dos corações

Permanecem guardados e escondidos,

Para serem lembrados e reaquecidos, e quem sabe?

Um dia vividos!

 

Maria Antônia Teixeira da Costa

Mossoró, madrugada do dia 30 de Setembro de 2013.

 

domingo, 29 de setembro de 2013

A PROFESSORA NEUZA DE AGUIAR E SEU LEGADO EDUCACIONAL



                                                                      PARTE II
                    As Professoras Neuza de Aguiar ( direita) e Maria Antônia Teixeira da Costa (esquerda) em 2001 em Natal

Em 28 de novembro de 1929, o diretor da Escola Normal de Natal, Theodoro Câmara, conferiu a Neuza de Aguiar o diploma de professora primária com todos os direitos e prerrogativas que lhe eram inerentes.

Neste período receber um diploma da Escola Normal de Natal era sinônimo de participar de um grupo privilegiado, pois a seletividade do ensino era grande e poucos tinham acesso sequer ao primário no Rio Grande do Norte. As exigências formativas eram rigorosas, os professores da Escola intelectuais, a Escola Normal era um centro de excelência de formação de professores.

A professora Neuza de Aguiar lembrou de seus professores, entre eles: Dona Júlia, professora de Matemática, o professor Francisco Ivo, Alfredo, Dr Severino Bezerra, também era professor.

Citou também o nome de suas colegas de curso, realizado na Escola Normal: Inaldir Monteiro, Margarida Melo, Nazaré Madruga, Judite, irmã de Dom Nivaldo Monte. Concluíram nessa turma 13 mulheres e 1 homem.
Para ela e a maioria das moças, os divertimentos dos anos em que cursou a Escola Normal (1926-1929), eram os passeios nas praças e nas ruas do centro da cidade e as idas aos cinemas. Ela e suas amigas mais próximas iam ao cinema Royal e o Politeon. Quem tinha namorado combinava e os levava. Tinha o fandango na esquina da Rio Branco e também o pastoril. Diz ela que “outras vezes a gente dançava. O divertimento era esse. Não se falava em droga. Os jovens não bebiam. A gente convidava o namorado para ir ao cinema, mas não pegava nem na mão, nem se beijava. Eu namorei com um que nunca me beijou”.

A professora Neuza de Aguiar inicia sua carreira como professora em 16 de julho de 1930 ao ser nomeada pelo então Presidente do Estado do Rio Grande do Norte, Juvenal Lamartine Faria para reger, interinamente, o Curso Infantil Mixto (conforme a ortografia da época) do Grupo Escolar “Capitão José da Penha”, de Baixa Verde, aonde permaneceu até 1933 quando foi nomeada pelo Diretor Geral do Departamento de Educação, Jerônimo Bezerra, de acordo com o livro 2, 177, para reger, efetivamente, a Escola Rudimentar Masculina “João Tibúrcio, de Espírito Santo, no município de Goianinha/RN

Em Goianinha as dificuldades foram muitas. Ela nos conta um pouco de sua história: “De Espírito Santo para eu ir ensinar eram três léguas. Eram três léguas de Espírito Santo para Goianinha. Eu ensinava numa casa alugada.Tudo era diferente. Até para Goianinha a gente ia pé, ou a cavalo. A gente adoecia logo. Quando chegava em Goianinha dormia na casa de pessoa amiga. Tinha tanta cobra e sapo cururu. As cobras entravam na escola. A cidade era toda de areia. Não tinha televisão, nem rádio. Não tinha nem luz elétrica, a gente colocava um candeeiro para poder estudar. Eu ficava lendo. Ensinei 4 anos em Goianinha”

A professora Neuza de Aguiar permaneceu quatro anos em Goianinha -RN, quando por Acto nº 1.055, de 25 do corrente, do Sr Governador do Estado, foi mandada servir, interinamente, no Grupo Escolar “Cel Antônio do Lago”, da Villa de Touros em 27 de janeiro de 1937. Passou nove anos como professora, após algumas promoções e mudanças de níveis, assume a direção do Grupo. de 1946 ao ano de 1967. O Grupo funcionava em 1946 com apenas o turno matutino e havia três professoras: Maria Tavares de Melo, Maria Tereza de A. Teixeira e a própria diretora, Neuza de Aguiar.

A professora Neuza de Aguiar narrou que durante os anos em que exerceu a direção do Grupo Escolar Cel Antônio do Lago, realizou tanto atividades relativas à direção escolar, aos serviços de secretaria e outras atividades, o que Paro (2002) denomina de atividades-meio, quanto atividades de ensino-aprendizagem, ou seja, atividades-fim, pois a mesma além de diretora é professora.
Quanto às atividades-fim, ela, junto às demais professoras, organizava dramas, bailes, quadrilhas, passeios para os municípios vizinhos. Essas atividades eram ensaiadas meses afinco e quando os alunos estavam preparados apresentavam os dramas para a comunidade no Centro Artístico e Operário Tourense, fundado em 1921 (demolido nos anos de 1970). As quadrilhas eram apresentadas na Quadra do Grupo Escolar e envolvia toda a comunidade, além dos bailes e passeios para os municípios vizinhos que a turma adorava.

    A professora Neuza de Aguiar e sua ex-aluna e professora Paula Frassinete em 2002 em Natal (foto do arquivo da professora Maria Antônia Teixeira da Costa)

O Grupo Escolar era um palco cultural e todos o valorizavam. “O folclore tourense manifestou-se com intensidade e alegria nas representações teatrais levadas a efeito no palco do Centro Operário Tourense e no Grupo Escolar Cel Antônio do Lago [...] (PATRIOTA, 2000, p.109).
Algumas das festas citadas, como a páscoa, o dia das mães, o dia Sete de Setembro, o dia do professor, envolvia toda a comunidade. No caso do Grupo Escolar Cel Antônio do Lago, o envolvimento da comunidade era enorme, inclusive as professoras colaboravam com o Centro Artístico Operário Tourense.
Quanto ao material didático a professora Neuza de Aguiar revelou que usava em sua aula os livros, entre eles o de Admissão ao Ginásio, utilizava mapas e o globo. Paula Frassinetti, sua aluna, nos relata que esse material didático foi sendo ampliado à medida que as professoras se especializavam, o que foi acontecendo, no seu caso, a partir de 1962, ano em que ela começou a ensinar no Grupo Escolar Cel Antônio do Lago, quando a professora Neuza de Aguiar era diretora.
Os livros didáticos, conforme a nossa pesquisa no Jornal “A República”, eram adotados pelo Departamento de Educação, o qual publicava através de portarias, as relações dos livros a serem trabalhos nas escolas primárias. As relações eram diferenciadas para os Grupos Escolares, as Escolas Reunidas e as Escolas Isoladas. (A REPÚBLICA, jul.1946). Conforme a professora Neuza de Aguiar, a leitura era realizada todos os dias em sua sala de aula e isso mesmo ela cobrava de suas colegas professoras, havendo um respeito entre todas.
De acordo com os depoimentos de Paula Frassinetti, sua ex-aluna de 1956 a 1960 e a partir de 1962, professora do Grupo Escolar Antônio do Lago, a professora Neuza de Aguiar era competente, correta, dava aula com domínio de conteúdo, parece que tudo estava em sua cabeça, pois não precisava olhar para nenhum papel. Como aluna da referida professora, ela relembra quando estudou a 5ª série, o livro indicado era o Programa de Admissão ao Ginásio. As provas eram chamadas sabatinas. A professora Neuza de Aguiar chamava o aluno pela caderneta o qual retirava o bilhete de dentro de uma caixa e explanava o assunto. Após a explanação vinham as perguntas. Na leitura era assim: ela indicava o aluno para iniciar a leitura, batia palma e o aluno seguinte continuava a ler, o outro deveria ficar atento para continuar de onde o outro parou.
Com a publicação de sua aposentadoria em 19 de julho de 1969, no Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Norte, aposentou-se a professora Neuza de Aguiar, no cargo de professora do Ensino Primário, do Quadro do Magistério Público do Estado, lotada no Grupo Escolar Antônio do Lago. Relatos nos permitem afirmar que ao adentrarmos o velho e abandonado Grupo Escolar Cel Antônio do Lago, parece que ouvimos o ressoar do sapato da professora Neuza de Aguiar, batendo forte no assoalho do Grupo: toc, toc, toc, e todos vão se organizando e se recolhendo em suas travessuras.

A professora Neuza de Aguiar partiu (morreu) em 2003 e deixou para a história do povo de Touros um grande legado educacional.





     O Grupo Escolar Cel Antônio do Lago - Touros -RN, onde a professora Neuza de Aguiar dedicou sua vida


                                                    Maria Antônia Teixeira da Costa


Observações: Texto escrito em 2008 pela professora Maria Antônia Teixeira da Costa com algumas adaptações para essa publicação no memórias de Touros -Rn


segunda-feira, 23 de setembro de 2013

A PROFESSORA NEUZA DE AGUIAR E SEU LEGADO EDUCACIONAL

                                                                              PARTE I



     A professora Neuza de Aguiar. De Pé, da sua esquerda para a direita, a terceira normalista. Essa é a sua turma da Escola Normal de Natal. Em 28 de novembro de 1929, o diretor da Escola Normal de Natal, Theodoro Câmara, conferiu a Neuza de Aguiar o diploma de professora primária com todos os direitos e prerrogativas que lhe eram inerentes (Foto do Arquivo de Maria Antônia Teixeira da Costa)




O objetivo deste artigo é reconstruir a história da professora Neuza de Aguiar na perspectiva de contribuir com a história da educação do município de Touros-RN. Para isto, recorremos às entrevistas que realizamos com a professora citada em três momentos distintos: no ano de 1988, quando ela morava à Rua Princesa Isabel no bairro da Cidade Alta em Natal e estava com 80 anos de idade; no ano de 1995, quando morava em um pensionato à Rua Rio Branco, no mesmo bairro; e por último em 2000, quando residia com a sua irmã no bairro do Tirol em Natal/RN. Pesquisamos também os documentos, como decretos, leis do Governo do Estado do Rio Grande do Norte acerca da carreira profissional da professora citada; em jornais e livros.

De acordo com suas narrativas, a professora Neuza de Aguiar nasceu em Natal, em 27 de fevereiro de 1908.  Perdeu a sua mãe aos sete anos de idade. Morou com sua família à Rua das Virgens na Ribeira, em Natal, Rio Grande do Norte, depois mudaram para um Sítio na Rua Apodi, em seguida para a Rua Rio Branco. Seu pai era Manoel Raimundo de Aguiar, natural de Guarabira – Paraíba, e Maria Isabel Moraes. A mãe cuidava de casa e o seu pai tinha o curso de Guarda-livros e trabalhava como contador do Banco do Estado do Rio Grande do Norte. Em seu tempo livre o pai da professora Neuza de Aguiar era também músico. Ele vivia da casa para o trabalho, conforme a sua narrativa.

 Ela nos relatou que após a morte de sua mãe seu pai se casou com Maria Luiza Moreira de Aguiar. Do primeiro casamento seu pai teve cinco filhos e do segundo teve 6 filhos. Quando seu papai morreu a professora Neuza tinha 37 anos de idade. No bairro de Lagoa Nova tem uma rua em homenagem ao seu pai, é a Rua Contador Manoel Raimundo Aguiar.  Tem outra rua com o nome de sua irmã “ Rua Professora Creuza Aguiar, e outra rua com o nome de meu irmão é a rua “José Nazareno Aguiar” ele era formado em Ciências contábeis

 
Professora Neuza de Aguiar e demais professoras, em frente ao Grupo Escolar Cel Antônio do Lago nos anos de 1960.




Neuza de Aguiar estudou o primário no Grupo Escolar Augusto Severo, em Natal depois no Colégio da Conceição. Lá no colégio da Conceição aprendeu a bordar, tinha também religião. Sobre o seu primário nos anos de 1916, ela nos afirma: “Os anos vão passando, a gente esquece de umas coisas e lembra de outras. Naquela época os meninos respeitavam os professores.  Hoje os meninos não ligam para os professores. Os professores têm mais medo dos meninos do que os meninos dos professores. Os professores não se dão respeito. Antes a gente respeitava os meninos.”(Entrevista concedida à autora em outubro de 2000)

Em 1926, a professora, aos 18 anos de idade, iniciou a Escola Normal. De acordo com o Estatuto da Escola Normal de Natal que vigorou nos anos em que Neuza de Aguiar estudou na Escola, o candidato que desejasse ingressar na referida escola necessitava atender uma série de requisitos entre eles: ter de 15 a 25 anos de idade, não ter doença contagiosa nem defeitos físicos, ter boa conduta moral e escolar comprovada, ter sido aprovado no Exame de Admissão. Nesse sentido, a professora Neuza de Aguiar fez o Curso Preparatório na escola particular do professor Francisco Ivo no ano de 1925 e ingressou no 1º ano da Escola Normal em 1926. Diz ela: “Estudei para ser professora na Escola Normal de Natal, conclui em 1929, aos 21 anos de idade. Essa escola funcionava no Grupo Escolar Augusto Severo, na Ribeira, em quatro anos. Era muito diferente.”



 Continua...


 Maria Antônia Teixeira da Costa