Maria
Antônia Teixeira da Costa
Prof.maria.antonia@hotmail.com
Hoje
acordei olhando para o relógio, aliás, não olhei, ele me avisou, “são seis e
meia” da manhã. Olho pelas frestas da janela do meu quarto e é uma manhã ensolarada
de outubro de 2009. Essas são coisas dos tempos mais que modernos, pois durante
os anos de 1960, em Touros-RN, e na maioria das cidades brasileiras, o tempo
não era medido assim. Não tínhamos os relógios sofisticados que temos hoje, nem
energia elétrica, nem televisão, nem telefone nas residências, nem iphone, nem
smartphone, nem internet. Éramos crianças: brincávamos de roda, corríamos na
rua, tomávamos banhos nas biqueiras em tempo de chuva, subíamos em árvores,
éramos felizes.
A praia
de Touros, a cidade de Touros era um imenso coqueiral a cantar com o vento a
bater em suas palhas. Era uma praieira de pescadores, praieira de amores.
Dormíamos com as portas abertas se assim o desejássemos e tudo continuava no
outro dia com o badalar dos sinos e da Ave-Maria.
Nas
manhãs de sol, os seus raios fulgurosos alardeavam luzes ao coqueiral e
as águas do mar cintilavam como pérolas a brilharem fora de suas conchas.
Acordávamos,
cinco horas da manhã, como muitas cinco horas em nossas infâncias. Não tão
distante de nós os galos cantavam e entoavam cantos que repassavam aos outros
galos. Como diz o poeta João Cabral de Melo Neto, “um galo sozinho não tece uma
manhã ele precisará de outros galos para lançar o seu grito mais além”. E
assim os galos anunciavam o amanhecer do dia.
Ao
caminharmos para a beira da praia olhávamos os passarinhos, especialmente os
pardais tomando banho de areia e sol. Dizíamos bom dia aos amigos de papai.
Algumas vezes ele pedia para eu recitar alguma poesia infantil e seguíamos
adiante. Assistíamos ao espetáculo do sol nascendo, muitas vezes sentados em
cima do Tourinho (grande pedra em formato de touro) e mais um pouco lá da praia
ouvíamos o sino da Igreja matriz, Bom Jesus dos Navegantes, badalar e a Ave
Maria era entoada, seis horas da manhã.
A radiola
da igreja tocava a Ave-Maria e todos sabiam que o dia amanhecia,. Era hora de
voltar para casa, tomar café e ir para o Grupo Escolar General Antônio
Florêncio do Lago onde estudávamos o primário.
Hoje,
essas cenas são presentes em nossas memórias e a menina ainda teima em existir
em nossos sonhos, saudades de papai. Essas lembranças são marcantes em nosso
viver. É claro, o tempo não para, crescemos, somos adultos, eu e meus irmãos,
somos felizes.
Sempre
que retornamos à cidade de Touros, vamos apreciar o nascer do sol naquele mesmo
lugar que não é o mesmo lugar, nem nós somos os mesmos, como diz Heráclito de
Éfeso, um dos primeiros filósofos da humanidade, há mais de 2.500 anos atrás:
“Tu não podes tomar banho duas vezes no mesmo rio, pois aquelas águas já terão
passado e também tu já não serás mais o mesmo”. Ou seja, tu não podes ir duas
vezes ao mesmo lugar, o lugar não é o mesmo, nem somos os mesmos.
É o
tempo! O que é o tempo? Como medir o tempo? São as nossas memórias. O tempo
existe no espírito humano e é nele que encontramos, o presente, o passado e o
futuro. Já não medimos o tempo como no passado, mas o medimos o tempo
todo, convivemos com ele o tempo todo. Isso é o que nos afirma Santo Agostinho
em sua obra: “Confissões”. Refletindo sobre essas memórias e olhando o relógio
do tempo, constatamos que ele teima em bater tique-taque, tique-taque,
tique-taque.
Que tenhamos sempre a sabedoria de entender o tempo. Esse tempo que recria, renova, e enche de vida tudo que toca. Sabedoria para entender as despedidas como um breve até logo, afinal nos encontraremos nessa eterna ciranda do tempo e da vida.
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