Linda fotografia do luar de Touros por Dione Nascimento
Seu Lucas do motor, assim ele é conhecido na cidade de Touros RN, pois foi durante quase vinte anos o responsável pela manutenção dos motores que forneciam a iluminação pública da cidade. Seu verdadeiro nome é Luiz Emídio da Costa. Nasceu em 15 de outubro de 1924 e faleceu em 27 de janeiro de 2007. É filho de Antônia Pereira da Costa e Emídio Francisco da Costa (Emídio Condurú) Ele morava à Rua Cel Antônio Antunes, 23. Casou-se em 1959, com Maria do Céu Teixeira da Costa com a qual teve dez filhos, entre eles, eu que escrevo esta história a partir de seus relatos orais e nossas lembranças.
Luiz Emídio da Costa na Avenida Prefeito José Américo-Touros-RN em 1987, ao fundo da fotografia a casa onde viveu Vitalina
Nascido e criado em Touros
viu o tempo passar e ficar em seus oitenta e dois anos (82) anos de idade
vividos. Perdeu seu pai quando tinha aproximadamente 30 anos e passou a cuidar
da sua mãe e suas irmãs enquanto seus outros irmãos foram para o Rio de Janeiro. Assumiu então a profissão de seu pai e passou a fabricar anzóis de
diversos tipos, vendidos aos pescadores do local, bem como na capital do
Estado. Além disso, cuidava da luz da cidade e com a chegada dos filhos
tornou-se pai aos 35 anos de idade.
Pai no sentido completo que podemos
afirmar do que é ser um pai. Ele nos gerou e nos amou de uma maneira maravilhosa. A sua racionalidade e sensibilidade se aliavam de tal forma que
diria, se meu pai tivesse tido oportunidade, seria conhecido hoje como um
doutor, um grande cientista, um grande artista. Eu e meus irmãos aprendemos com ele muitas lições de vida, aprendemos valores inestimáveis: a simplicidade, a honestidade, o respeito, o
amor.
Ainda criança, em Touros
não havia cinema. Lembro-me como se fosse hoje, ele levou-nos para assistir
vários filmes, entre eles, “Os brutos também amam”, “A lenda de Tarzan”. Esses
dois são os que mais marcaram minha infância. Isso aconteceu no início da
década de 1970. Os filmes aconteciam no salão da antiga casa paroquial que
ficava na rua da antiga prefeitura, a qual foi demolida.
Fomos muitas vezes, também,
assistir ao show de João Redondo, hoje conhecido por Mamulengo. Era uma espécie
de divertimento popular onde através de um palco ligeiramente levantado,
bonecos dramatizam histórias. Semanalmente, nos finais de semana eram
apresentados no antigo Centro Operário Tourense, se não me engano, hoje lá
funciona o Fórum de Touros.
Centro Operário Tourense em 1975- Foto do Livro Touros à Meia-tinta do autor: Geraldo Gonzaga da Costa
Quantos pais não têm tempo para
seus filhos? Muitos. A maioria não participa da infância de seus filhos e
quando se dão conta, o tempo passou, os filhos tornaram-se homens e mulheres,
casaram, foram embora de casa. Com nosso pai não foi assim.
Todos os dias à tardinha ele pegava sua bicicleta e colocava minhas irmãs, Maria Auxiliadora e Maria Alécia no bagageiro e eu ficava dentro de uma cesta que ele colocou na frente da bicicleta e ia passear conosco até à praia. De manhã cedo, nos finais de semana, nos levava para tomarmos banho de mar e dizia para tomarmos três goles de água salgada, que conforme ele dizia era bom para muitas coisas, como para abrir o apetite, para gripe entre outros males.
Eu ainda pequena e ele me ensinava
pequenas poesias as quais eu memorizava e recitava-as para os seus conhecidos
quando íamos passear. Nessa época eu tinha cinco anos de idade. Durante toda a
minha existência ouvi papai contar muitas histórias sobre a cidade de Touros.
Na nossa infância ele nos levava
para ouvirmos histórias das pessoas mais velhas. Minha irmã Maria Alécia, está
com um projeto de escrever um livro com essas histórias.
Ele era um homem brincalhão, todos conhecem essa sua característica. Além de histórias verídicas, contava-nos piadas bem engraçadas, tinha um humor fantástico. Fazia todos rirem com suas palhaçadas.
Ele era um homem brincalhão, todos conhecem essa sua característica. Além de histórias verídicas, contava-nos piadas bem engraçadas, tinha um humor fantástico. Fazia todos rirem com suas palhaçadas.
Atualmente todos falam em
economizar energia, economizar água, pois creiam, em minha infância o nosso pai
sempre falava sobre isso, ensinávamos a economizar. Ele dizia que um dia a água
e a energia podiam acabar.
Hoje se fala em direitos iguais
para homens e mulheres, em nosso cotidiano vivenciamos isso em vários pontos do
relacionamento de papai e mamãe. Por exemplo: mamãe trabalhava à tarde, quando
ela chegava em casa a janta já estava quase toda pronta; ele lavou muitas
fraudas nossas, nos deu mamadeiras, conforme mamãe nos relata. Em nossa
adolescência, pudemos observar que ele realizava muitas atividades para ajudar
mamãe. Até mesmo quando mamãe ia dar à luz ele ajudava às parteiras, pois
muitos dos seus filhos nasceram em casa. Mesmo com uma pessoa que nos ajudava
nas tarefas, nosso pai sempre foi aquele homem cuidadoso, amoroso, carinhoso. Às
vezes ele era muito duro conosco, mas jamais perdeu a ternura.
Além de tudo
isso, ele trabalhava e muito, ele cuidava da luz da cidade, através da
manutenção dos motores geradores da energia. Papai era um homem muito
inteligente, era ele quem fazia as instalações elétricas das casas, consertava vários tipos de eletrodomésticos da época, e também, motores
de carro. Depois de meados dos anos de 1980, outras pessoas foram aprendendo o ofício
Perguntamos a papai (Seu Lucas do Motor) em 1987 como era a iluminação pública na cidade de Touros e nos respondeu baseado em suas lembranças e em suas experiências. Papai tinha uma memória extraordinária.
Antes dos anos de 1920 a lua iluminava
a cidade de Touros-RN, como canta o poeta, José Porto Filho na canção Luar de
Touros.
“Quando
em noites de luar, em minha vila.
Até
a própria natureza se retrata.
E o
clarão do luar que então cintila.
Vem
convidando o meu amor à serenata.
Não pode
haver luar, assim, tão belo.
Como o
luar da minha terra amiga...
Cada
coqueiro a ensaiar uma cantiga
No
farfalhar do seu leque bem singelo
O céu se
torna marulhado em prata
E a terra
cheia de ofuscante luz.
Quando o
clarão da lua se desata
Em jorros,
na Matriz do Bom Jesus!
[...]
Touros foi também iluminada por lampiões que eram abastecidos com
querosene, contou papai, dos anos de 1920 até 1948. Havia um lampião a
querosene no Centro Operário Tourense, onde hoje funciona o Fórum; outro na
frente da casa de Izaque, onde é hoje a casa de Dona Salete (situados na rua
Cel Antônio Antunes) outro na casa de José Porto, ex-prefeito de Touros nos
anos de 1934, na antiga rua do Capim; um na antiga Prefeitura da cidade,
denominada de Palácio Porto Filho, a qual foi demolida; havia ainda um lampião
em frente a casa de Joça da Mata, situada hoje na rua Pedro II, aonde morou seu
Manoel Cândido e sua família.
Em 1948, assume a Prefeitura da
cidade de Touros, o vice-prefeito, Severino Rodrigues Santiago, conhecido como
Severino Grilo, em virtude do falecimento do então prefeito Arthur Costa e
Silva.
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