segunda-feira, 27 de abril de 2015

MARIA DEU A LUZ: NARRATIVAS DE MARIA DO CÉU TEIXEIRA DA COSTA COMO PARTEIRA DE TOUROS-RN - PARTE I



 Maria Antônia Teixeira da Costa


Histórias são para serem contadas, preservadas, seja pela oralidade seja pela escrita. Decidimos escrever o que aprendemos através da oralidade, pois se passam os anos e o tempo e vamos perdendo a memória e as nossas histórias muitas vezes ficam no esquecimento e morrem com as gerações. Como filha de Maria do Céu Teixeira da Costa, apresento para todos, a sua história como Auxiliar de Enfermagem, formada pela Escola de Auxiliares de Enfermagem de Natal/RN e como parteira de Touros-RN. Ela realizou partos em mulheres de Touros e adjacências nos idos de 1959 a 1965. O parto aqui tratado refere-se, como nos afirma Aurélio, “ao processo de nascimento, no qual o feto, a placenta e as membranas fetais são expelidos do aparelho reprodutor materno”.

Maria do Céu e colegas da Escola


Conforme informações de Maria do Céu, há vários tipos de parto: cesariana, cócoras, natural, fórceps. Na cesariana, abre-se o abdome da mulher para retirar o feto; o parto de cócoras, como o nome afirma, a mulher fica de cócoras, geralmente auxiliada por uma cadeira e tem o seu filho, é um parto muito utilizado pelas índias; o parto natural é aquele realizado sem artifícios, espontaneamente; No parto fórceps é utilizado instrumento para extrair a criança do útero, comumente fala-se: “puxar a criança a ferro”.

Diante do exposto perguntamos: como eram realizados os partos de mulheres de Touros e adjacências nos anos de 1959 a 1965? Quem os realizava? Quais as condições da saúde em Touros nesse período? Para respondermos tais perguntas, conversamos com Maria do Céu sobre o referido assunto e realizamos uma entrevista gravada em janeiro de 2003. Além disso, contamos com as minhas memórias e da minha irmã Maria Alécia. Inicialmente falaremos um pouco sobre mamãe, em seguida sobre a sua formação profissional e posteriormente sobre sua atuação profissional.

Maria do Céu Teixeira da Costa foi registrada como filha de Touros. Nasceu em 25 de março de 1938 e conta hoje (2015) com 77 anos de idade. Viúva, foi casada com Luiz Emídio da Costa e teve dez filhos, destes, são vivos oito.
Foi a primeira diretora da Maternidade de Touros , exerceu essa função nos anos de 1962 e 1963. Deixou a Maternidade, e a profissão que tanto amou por motivos aqui não revelados. Foi quando passou a exercer a docência primária a partir de 1965, profissão na qual se aposentou, apesar de sempre ter amado a enfermagem.

Aos dezoito anos de idade a convite do Padre José Luiz, da Paróquia de Touros, e com a permissão de sua mãe Maria Soledade do Nascimento, segue para Natal para fazer o curso de Auxiliar de Enfermagem. Conforme o escritor e historiador Itamar de Souza, a Escola de Auxiliar de Enfermagem de Natal surgiu da iniciativa do Dr. Januário Cicco em 1950. Diante das dificuldades, apenas recebeu autorização do Ministério da Educação e Saúde, para ser colocada em funcionamento, em 17 de dezembro de 1955.

Mamãe nos relatou que o seu Curso de Auxiliar de Enfermagem foi realizado nos anos de 1956 e 1957 no Hospital conhecido hoje como Hospital Onofre Lopes. Durante um ano as alunas eram internas e durante seis meses eram externas. A equipe de professoras era bem treinada, entre elas, foram lembradas: Dona Nice Menezes de Oliveira, alagoana; Geny  Carvalho de Oliveira, pernambucana, professora excelente de Técnica de Enfermagem e a professora Dona Maria de Lourdes Lopes,  a primeira diretora da Escola de Enfermagem. Ela era formada pela Escola de Enfermagem Ana Nery do Rio de Janeiro.  Conviveu também com a Freira Ana Amasilles Rocha.

Ela nos narra ainda, que estudou muito, o curso era muito puxado. Estudou disciplinas tais como: Microbiologia, Obstetrícia, Biologia, Técnica de Enfermagem, Nutrição e Saúde, Pediatria, Noções de Patologias Médicas. Além disso, o estágio tinha a duração de um ano. A disciplina era rígida. Às sete da manhã todas as estagiárias deveriam estar na sala para a chamada e para a distribuição de tarefas do dia. Havia a clínica médica masculina e a clínica médica feminina. A roupa era de listra com avental branco e deveria estar impecável. Ao meio-dia era o horário do almoço. Eram muitas moças e a mesa do refeitório bem grande. Após o almoço, havia o descanso para recomeçar a tarde com aulas teóricas.

A primeira cirurgia que mamãe instrumentou foi uma apendicite com o doutor Paulo Galvão. Para ela o referido doutor era muito humano e paciente. Já o Doutor Hiram Diogo Fernandes, era cirurgião também, muito alvoroçado e as meninas ficavam com medo dele. Assistiu muitas cirurgias. Lembra-se de uma delas que foi de uma moça do município de Touros que estava com gangrena no intestino. Essa operação foi realizada pelo Dr. José Tavares e seus auxiliares.

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